Quando Deus nos concede a graça de percorrermos com saúde e lucidez uma considerável etapa da caminhada da vida, raro é o dia em que, ao acordar, não sintamos como que uma espécie de mola, um forte impulso que nos faz erguer as mãos ao céu e agradecer!
Acontece comigo e penso que acontecerá com todos aqueles que, como eu, desde muito novos, e apesar das muitas marteladas que levaram e deram nos próprios dedos, souberam sempre encarar a vida com optimismo, humildade, tolerância, esperança e muita fé.
O artista, o cientista, o poeta, o ourives da imaginação, o arquitecto do diálogo e até o modesto artesão, todos eles devem sentir, embora cada um à sua maneira, esse sentimento de gratidão, essa bênção que é, afinal, como que a comunhão do divino.
Quando, percorridos muitos quilómetros do percurso, experimentamos o sentimento do dever cumprido sem que durante a corrida nunca tenhamos tentado molestar o companheiro que seguia a nosso lado, confessamos, sem vaidade, que nos sentimos imensamente felizes e contentes. E por que não dizê-lo, orgulhosos, até!...
Nesta etapa da vida em que as paixões esfriaram, em que já não temos necessidade de nos deixarmos arrastar pelo favoritismo tendencioso das competições que se realizam à nossa volta, devemos apenas pedir forças e saúde para que possamos continuar a percorrer, até ao apito final, estes restantes quilómetros da maratona que Deus nos impôs.
Viver apaixonado pela vida, sem, contudo, nos deixarmos dominar pelas paixões do passado, pelas recordações de uma juventude que já passou, cuja assumpção nos poderá tornar ridículos aos olhos dos outros é, quanto a mim, o melhor remédio contra sentimentos de tédio e de desistência.
Bem sei que com os “atractivos”cada vez mais cativantes desta vida moderna a "Arte de Saber Envelhecer" se torna mais difícil de aprender.
E o que piora ainda mais a aprendizagem é que muita gente teima em tomar como ponto de referência esse rectângulo plastificado a que dão o nome de Bilhete de Identidade! Bem sei que é obrigatório trazê-lo connosco, mas daí a deixar que ele nos escravize...
Contava-me há dias um Amigo que na Universidade Sénior do Rotary Cube de Tondela, uma senhora com a bonita idade de 84 (oitenta e quatro) anos de idade tinha começado a frequentar as aulas de informática e que passado pouco tempo, muito contente e feliz exultava de alegria por já saber servir-se do computador!
Velho e idoso não é a mesma coisa: o idoso renova-se em cada dia que começa; o velho vai acabando noite após noite. O idoso, olha o sol que desponta, conserva ainda um clarão de esperança; o outro, o velho, contempla o dia que termina, a escuridão, o tempo que já lá vai….
Talvez o tempo passe mais depressa quando vivemos apaixonados pela vida. Mas, cá na minha, essa paixão faz com que a velhice demore mais tempo a chegar.
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