sexta-feira, maio 30, 2008

Falando de mulheres




Para variar um pouco de tema, vou hoje contar-vos uma história. Antes, porém, queria pedir-lhe, minha senhora, que não veja nela qualquer afronta, qualquer insinuação, pois tenho pelas mulheres a maior admiração e respeito. Sou até daqueles que digo e penso que, tudo ou quase tudo o que fazemos, só tem graça e faz sentido por causa delas. Elas são a coisa melhor do mundo... embora alguns teimem em excluir a deles!
Mas vamos lá à história:
Rezam velhos manuscritos que São Miguel e o Diabo, num fim-de-semana prolongado quando conversavam acerca de um novo tratado de antropologia que tinha chegado clandestinamente à biblioteca celestial, ao abordarem o capítulo referente às diferenças entre o homem e a mulher, envolveram-se numa discussão. Enquanto o Diabo dizia que todas as mulheres eram linguareiras e diziam mal de tudo e de todos, São Miguel, pelo contrário, afirmava que devia, pelo menos, haver uma que não tivesse tais defeitos. Palavra puxa palavra e S. Miguel para fundamentar a sua afirmação, resolveu alugar uma nuvem e descer à Terra em busca de uma prova real.
Depois de calcorrear montes e vales, cidades e aldeias, o Santo cansou-se de tanto andar. E tão fatigado se sentiu que resolveu deitar-se à sombra de uma frondosa moita de madressilvas.
Sucedeu, porém, que do outro lado, estavam umas mulheres que, mal o lobrigaram por entre os ramos dos arbustos, começaram logo a sua sessão de maledicência:
Era com certeza um bêbado, porque tinha a cara muito vermelha. E devia ser um ladrão. A roupa que vestia de certeza que a que tinha roubado na Igreja, pois era exactamente a mesma do S. Miguel do altar da capela das Almas...Homem perigoso e de maus instintos...
Entre as mulheres que assim falavam, havia uma velhinha que não disse mal dele e que o fitava, sorrindo, com muito carinho no olhar. E o Santo viu-a. E retribuiu o sorriso. E a candura do seu olhar.
E depois, naquela noite, quando a velhinha dormia na sua cama, o Santo levantou-a com cautela, embrulhou-a num lençol, cobriu-lhe as madeixas brancas com as suas asas de Arcanjo e abalou com ela nos braços.
Ao chegar às portas do inferno, exausto, mas contente, gritou para o interior:
-Demónio de todos os demónios, anda cá! Aqui te trago, para que vejas, a única mulher que não é linguareira, não é intriguista, nem fala dos outros.
Ouvindo tais palavras, o Diabo que estava ocupado na manutenção das caldeiras do Inferno, veio à porta alagado em suor e, ao vê-los, desata a rir como possesso que era. E perante a perplexidade do Santo, sempre a rir, e troçando dele, o senhor dos Infernos, em tom diabólico, vomitando labaredas, disparou:
- Perdeste a aposta, pobre Arcanjo. Essa mulher eu conheço-a. É, de facto, uma excepção à regra... Mas é surda e muda de nascença!
Como vê, minha senhora, isto é apenas uma história tirada das milhentas que se contavam antigamente acerca da língua viperina das mulheres. Histórias do passado, de outras eras, de outros tempos. Desses tempos longínquos em que ainda não existia, como assunto de conversa, a actual casta de políticos tagarelas e maldizentes, nem a tribo desses arrogantes e mentirosos senhores da bola… e dos apitos!

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