Um dos nossos
notáveis poetas, que foi Guerra Junqueiro, autor de várias obras,
entre elas Os Simples, era também
senhor de uma admirável veia satírica que o levou a escrever vários panfletos
de combate político. Lembro-me, a propósito, de que na minha adolescência, uma
das suas obras, A Velhice do Padre Eterno, figurava no catálogo dos
livros cuja leitura era proibida pela autoridade pontifical.
Escusado será dizer que o livro passou
de mãos em mãos e apesar de muito esfarrapado, quase todos os que comigo
romperam os fundilhos das calças nos bancos do Colégio Tomás Ribeiro, o leram.
Fruto proibido…
Se hoje evoco o poeta de Freixo de
Espada à Cinta é porque li há dias, num excerto de um dos seus opúsculos
políticos, uma frase que apesar de ter já sido escrita há muitos anos mantém
ainda uma actualidade desconcertante. Escreveu ele que «a política é uma enxerga podre cheia de percevejos...»
Não acham que a mensagem que a frase
encerra continua pertinente e actual? A enxerga é a mesma. Pode não cheirar
mal, mas a factura dos desodorizantes é elevadíssima!
Os percevejos, esses famigerados e
fedorentos bichinhos que só atacavam de noite, foram substituídos por outros
parasitas que atacam a qualquer hora e em qualquer sítio…
São os chamados doutores da política -
esses pretensos defensores do povo que se arranham e insultam em público e que
depois se juntam e se empanturram à volta de mesas recheadas dos mais
requintados e exóticos manjares!
Não vale a pena entrar em pormenores,
mas é bom que reflictamos um pouco naquele "sacudir a água do capote"
por parte de quase todos os que deviam assumir a responsabilidade (ainda que
indirecta) dos erros que têm sido cometidos.
Atente-se ainda no que se tem dito e
feito, corrido e saltado, para encontrar um bode expiatório para justificar esta
crise que, afinal foi provocada deliberadamente por essa máquina infernal da
política!
Quanto a mim tudo isto não passa de uma
constante e hipócrita encenação. E tanto os que nos governam como os que lhes
fazem oposição não acreditam nem naquilo que dizem, nem naquilo que fazem.
Vivem a sonhar. E, entretanto, o País, sem dono, parece estar à venda. Vem aí a
liquidação total. E o trespasse...
Por isso não se admirem se um dia, ao
acordar, e ao olharem para a “torre de menagem”, depararem com um sujeito
desconhecido, a hastear uma bandeira, que não a nossa…
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