sexta-feira, setembro 12, 2014

A ENXERGA


 
Um dos nossos notáveis poetas, que foi Guerra Junqueiro, autor de várias obras, entre elas Os Simples, era também senhor de uma admirável veia satírica que o levou a escrever vários panfletos de combate político. Lembro-me, a propósito, de que na minha adolescência, uma das suas obras, A Velhice do Padre Eterno, figurava no catálogo dos livros cuja leitura era proibida pela autoridade pontifical.

Escusado será dizer que o livro passou de mãos em mãos e apesar de muito esfarrapado, quase todos os que comigo romperam os fundilhos das calças nos bancos do Colégio Tomás Ribeiro, o leram. Fruto proibido…

Se hoje evoco o poeta de Freixo de Espada à Cinta é porque li há dias, num excerto de um dos seus opúsculos políticos, uma frase que apesar de ter já sido escrita há muitos anos mantém ainda uma actualidade desconcertante. Escreveu ele que «a política é uma enxerga podre cheia de percevejos...»

Não acham que a mensagem que a frase encerra continua pertinente e actual? A enxerga é a mesma. Pode não cheirar mal, mas a factura dos desodorizantes é elevadíssima!

Os percevejos, esses famigerados e fedorentos bichinhos que só atacavam de noite, foram substituídos por outros parasitas que atacam a qualquer hora e em qualquer sítio…

São os chamados doutores da política - esses pretensos defensores do povo que se arranham e insultam em público e que depois se juntam e se empanturram à volta de mesas recheadas dos mais requintados e exóticos manjares!

Não vale a pena entrar em pormenores, mas é bom que reflictamos um pouco naquele "sacudir a água do capote" por parte de quase todos os que deviam assumir a responsabilidade (ainda que indirecta) dos erros que têm sido cometidos.

Atente-se ainda no que se tem dito e feito, corrido e saltado, para encontrar um bode expiatório para justificar esta crise que, afinal foi provocada deliberadamente por essa máquina infernal da política!

Quanto a mim tudo isto não passa de uma constante e hipócrita encenação. E tanto os que nos governam como os que lhes fazem oposição não acreditam nem naquilo que dizem, nem naquilo que fazem. Vivem a sonhar. E, entretanto, o País, sem dono, parece estar à venda. Vem aí a liquidação total. E o trespasse...

Por isso não se admirem se um dia, ao acordar, e ao olharem para a “torre de menagem”, depararem com um sujeito desconhecido, a hastear uma bandeira, que não a nossa…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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