sexta-feira, setembro 12, 2014

A PROCISSÃO


 
Diz-nos a experiência, que por mais graus académicos que um individuo possua, tal facto não quer dizer que reúna os requisitos e a competência necessários para desempenhar esse difícil cargo que é o de administrar e gerir dinheiros. E quando se trata de dinheiros públicos maior ainda se torna o grau de exigência requerido.

Embora existam indivíduos que nascem já com um apurado sentido de gestão, a maior parte só pode adquiri-lo mediante vários factores, nomeadamente através da vivência de determinadas situações de carência às quais é preciso juntar muita experiência e prática da vida. Acresce ainda dizer que a honestidade e o brio profissional são também complementos que não devem ser esquecidos.

É muito fácil trabalhar com o dinheiro dos outros e com ele fazer grandes “obras”, muitas vezes transmitindo aos menos atentos ou aos mais ingénuos uma imagem de benemérito quando afinal o dinheiro com que foram feitas nos saiu do próprio bolso!

E nesse contexto existem duas espécies de gestores políticos – uma constituída por pessoas que de facto estão empenhadas em melhorar as condições de vida dos seus munícipes, outra, a mais numerosa, que gasta o dinheiro à toa, em jantaradas, em beberetes, em compras supérfluas e outros acontecimentos, sem olhar a prioridades de qualquer espécie.

Diz um antigo ditado que o exemplo vem de cima, subentendendo-se do enunciado, que o que é bom deve ser imitado pelos que estão mais baixo. Infelizmente o ditado prostitui-se ou obrigaram-no a prostituir-se e só se copia o que é mau. Assim se o Terreiro do Paço dá esse mau exemplo por que não praticá-lo também?

Há dias, a Imprensa fez-nos saber que o Governo que “decreta lá da capital” ia dar popós novos a 56 chefes de gabinete das pastas ministeriais gastando com essa “dádiva” mais de um milhão de euros!

Uma bagatela para um País cuja maior parte dos habitantes anda de calças na mão!...

Em face deste exemplo, que razão assiste, aos cidadãos contribuintes desta Parvónia que em que cada dia que passa mais serviços civilizacionais lhe são roubados, para criticar qualquer dos nossos políticos que num gesto altruísta e de alto sentido solidário, oferecem de vez em quando uma sardinhada e uns copos de tinto ou umas “bejecas” à malta?!

Pensem nisto, meus amigos, e em vez de os criticar juntem-se a essa “procissão” que não cessa de “engrossar”.

E porque nada se pode fazer contra esse “engrossamento”, ide prá fila, pois sempre ireis “petiscando” qualquer coisa… 

 

 

 

 

 

 

 

A ENXERGA


 
Um dos nossos notáveis poetas, que foi Guerra Junqueiro, autor de várias obras, entre elas Os Simples, era também senhor de uma admirável veia satírica que o levou a escrever vários panfletos de combate político. Lembro-me, a propósito, de que na minha adolescência, uma das suas obras, A Velhice do Padre Eterno, figurava no catálogo dos livros cuja leitura era proibida pela autoridade pontifical.

Escusado será dizer que o livro passou de mãos em mãos e apesar de muito esfarrapado, quase todos os que comigo romperam os fundilhos das calças nos bancos do Colégio Tomás Ribeiro, o leram. Fruto proibido…

Se hoje evoco o poeta de Freixo de Espada à Cinta é porque li há dias, num excerto de um dos seus opúsculos políticos, uma frase que apesar de ter já sido escrita há muitos anos mantém ainda uma actualidade desconcertante. Escreveu ele que «a política é uma enxerga podre cheia de percevejos...»

Não acham que a mensagem que a frase encerra continua pertinente e actual? A enxerga é a mesma. Pode não cheirar mal, mas a factura dos desodorizantes é elevadíssima!

Os percevejos, esses famigerados e fedorentos bichinhos que só atacavam de noite, foram substituídos por outros parasitas que atacam a qualquer hora e em qualquer sítio…

São os chamados doutores da política - esses pretensos defensores do povo que se arranham e insultam em público e que depois se juntam e se empanturram à volta de mesas recheadas dos mais requintados e exóticos manjares!

Não vale a pena entrar em pormenores, mas é bom que reflictamos um pouco naquele "sacudir a água do capote" por parte de quase todos os que deviam assumir a responsabilidade (ainda que indirecta) dos erros que têm sido cometidos.

Atente-se ainda no que se tem dito e feito, corrido e saltado, para encontrar um bode expiatório para justificar esta crise que, afinal foi provocada deliberadamente por essa máquina infernal da política!

Quanto a mim tudo isto não passa de uma constante e hipócrita encenação. E tanto os que nos governam como os que lhes fazem oposição não acreditam nem naquilo que dizem, nem naquilo que fazem. Vivem a sonhar. E, entretanto, o País, sem dono, parece estar à venda. Vem aí a liquidação total. E o trespasse...

Por isso não se admirem se um dia, ao acordar, e ao olharem para a “torre de menagem”, depararem com um sujeito desconhecido, a hastear uma bandeira, que não a nossa…