Permita-me que o
trate assim. Familiarmente. Apesar de não termos andado juntos na escola somos
aproximadamente da mesma idade. Penso que tal facto me autoriza a usar esse
tratamento.
Resolvi escrever-lhe,
porque, e como o senhor disse um dia, “as pessoas têm direito à indignação”. E eu
estou indignado com o que têm dito a seu respeito.
Então lá porque o
bilhete de identidade está desbotado e as letras começam a sumir-se é caso para
nos colocarem no sótão onde só temos por companhia o pó e as teias de aranha?
Anda um homem durante
uma vida inteira a fugir das bruxas, a lutar pelo bem dos outros, a libertar os
oprimidos, a viajar, a dar conferências pelo mundo fora, a cavalgar tartarugas
a dar lições de austeridade, aulas de política, dinheiro aos pobres e, de repente,
querem que calce as pantufas e de charuto na boca deixe correr o marfim?
Por tudo isso, meu
caro Mário, apesar de não jogarmos no mesmo clube sinto-me no dever de lhe
manifestar a minha solidariedade, porque acho muito bem que prove que a “Brigada do Reumático” a que pertencemos, tem ainda muito para dar!
Andam por aí esses
rapazotes, esses “fils à Papa”
a fazer asneiras, a esbanjar dinheiro e nós, os mais idosos e mais fixes, lá porque nos cresceu a
barriga e os pés nos pesam, vamos deixar que eles deem com isto em pantanas?
A continuar este
regabofe e com estes meninos a esbanjar o dinheiro o que será das nossas
reformas e benesses vitalícias para que possamos continuar a manter o nosso
estatuto?
Sei que alguns dos
seus “companhons de route” não
concordam consigo, nem com algumas das suas aventuras, chegando mesmo a
compará-lo com um tal Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha e ao seu
encontro com dois “exércitos de ovelhas”, que afinal eram dois inofensivos
rebanhos! Tudo isso traduz bem a inveja daqueles que a gente sabe…Mesmo o
Sancho, aquele do “Quadrado”, mas não lhe dê importância, é trova que o vento
leva…
Li algures que esses rapazotes
também lhe foram ao bolso e cortaram no subsídio da sua Fundação. Não há
direito!...
E para terminar quero
dizer-lhe que também me solidarizei consigo e com o Manel Poeta e não fui à
festa do 25 de Abril. Era o que faltava. Nós, no meio daquela gente que não nos
merece!...
E a propósito da
festa da Liberdade, não acha que continuamos a viver numa espécie de
situacionismo anterior a 74, embora disfarçado sob o manto da Democracia? Onde
estão as promessas que nos fizeram nessa data tão simbólica? Na altura dizia-se
haver 100 famílias milionárias. E hoje quantas existem? E os Ex-qualquer coisa
que estão a receber reformas milionárias enquanto o número de pobres aumenta dia-a-dia?
Porque o espaço que
me é reservado está quase todo preenchido, vou terminar exprimindo-lhe o meu
contentamento por saber que, como eu, há outros velhotes que continuam a ter
sonhos lindos…