sábado, maio 18, 2013

CARO MÁRIO ALBERTO



Permita-me que o trate assim. Familiarmente. Apesar de não termos andado juntos na escola somos aproximadamente da mesma idade. Penso que tal facto me autoriza a usar esse tratamento.
Resolvi escrever-lhe, porque, e como o senhor disse um dia, “as pessoas têm direito à indignação”. E eu estou indignado com o que têm dito a seu respeito.
Então lá porque o bilhete de identidade está desbotado e as letras começam a sumir-se é caso para nos colocarem no sótão onde só temos por companhia o pó e as teias de aranha?
Anda um homem durante uma vida inteira a fugir das bruxas, a lutar pelo bem dos outros, a libertar os oprimidos, a viajar, a dar conferências pelo mundo fora, a cavalgar tartarugas a dar lições de austeridade, aulas de política, dinheiro aos pobres e, de repente, querem que calce as pantufas e de charuto na boca deixe correr o marfim?
Por tudo isso, meu caro Mário, apesar de não jogarmos no mesmo clube sinto-me no dever de lhe manifestar a minha solidariedade, porque acho muito bem que prove que a “Brigada do Reumático” a que pertencemos, tem ainda muito para dar!
Andam por aí esses rapazotes, esses “fils à Papa” a fazer asneiras, a esbanjar dinheiro e nós, os mais idosos e mais fixes, lá porque nos cresceu a barriga e os pés nos pesam, vamos deixar que eles deem com isto em pantanas?
A continuar este regabofe e com estes meninos a esbanjar o dinheiro o que será das nossas reformas e benesses vitalícias para que possamos continuar a manter o nosso estatuto?
Sei que alguns dos seus “companhons de route” não concordam consigo, nem com algumas das suas aventuras, chegando mesmo a compará-lo com um tal Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha e ao seu encontro com dois “exércitos de ovelhas”, que afinal eram dois inofensivos rebanhos! Tudo isso traduz bem a inveja daqueles que a gente sabe…Mesmo o Sancho, aquele do “Quadrado”, mas não lhe dê importância, é trova que o vento leva…
Li algures que esses rapazotes também lhe foram ao bolso e cortaram no subsídio da sua Fundação. Não há direito!...
E para terminar quero dizer-lhe que também me solidarizei consigo e com o Manel Poeta e não fui à festa do 25 de Abril. Era o que faltava. Nós, no meio daquela gente que não nos merece!...
E a propósito da festa da Liberdade, não acha que continuamos a viver numa espécie de situacionismo anterior a 74, embora disfarçado sob o manto da Democracia? Onde estão as promessas que nos fizeram nessa data tão simbólica? Na altura dizia-se haver 100 famílias milionárias. E hoje quantas existem? E os Ex-qualquer coisa que estão a receber reformas milionárias enquanto o número de pobres aumenta dia-a-dia?
Porque o espaço que me é reservado está quase todo preenchido, vou terminar exprimindo-lhe o meu contentamento por saber que, como eu, há outros velhotes que continuam a ter sonhos lindos…












CARO MÁRIO ALBERTO



Permita-me que o trate assim. Familiarmente. Apesar de não termos andado juntos na escola somos aproximadamente da mesma idade. Penso que tal facto me autoriza a usar esse tratamento.
Resolvi escrever-lhe, porque, e como o senhor disse um dia, “as pessoas têm direito à indignação”. E eu estou indignado com o que têm dito a seu respeito.
Então lá porque o bilhete de identidade está desbotado e as letras começam a sumir-se é caso para nos colocarem no sótão onde só temos por companhia o pó e as teias de aranha?
Anda um homem durante uma vida inteira a fugir das bruxas, a lutar pelo bem dos outros, a libertar os oprimidos, a viajar, a dar conferências pelo mundo fora, a cavalgar tartarugas a dar lições de austeridade, aulas de política, dinheiro aos pobres e, de repente, querem que calce as pantufas e de charuto na boca deixe correr o marfim?
Por tudo isso, meu caro Mário, apesar de não jogarmos no mesmo clube sinto-me no dever de lhe manifestar a minha solidariedade, porque acho muito bem que prove que a “Brigada do Reumático” a que pertencemos, tem ainda muito para dar!
Andam por aí esses rapazotes, esses “fils à Papa” a fazer asneiras, a esbanjar dinheiro e nós, os mais idosos e mais fixes, lá porque nos cresceu a barriga e os pés nos pesam, vamos deixar que eles deem com isto em pantanas?
A continuar este regabofe e com estes meninos a esbanjar o dinheiro o que será das nossas reformas e benesses vitalícias para que possamos continuar a manter o nosso estatuto?
Sei que alguns dos seus “companhons de route” não concordam consigo, nem com algumas das suas aventuras, chegando mesmo a compará-lo com um tal Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha e ao seu encontro com dois “exércitos de ovelhas”, que afinal eram dois inofensivos rebanhos! Tudo isso traduz bem a inveja daqueles que a gente sabe…Mesmo o Sancho, aquele do “Quadrado”, mas não lhe dê importância, é trova que o vento leva…
Li algures que esses rapazotes também lhe foram ao bolso e cortaram no subsídio da sua Fundação. Não há direito!...
E para terminar quero dizer-lhe que também me solidarizei consigo e com o Manel Poeta e não fui à festa do 25 de Abril. Era o que faltava. Nós, no meio daquela gente que não nos merece!...
E a propósito da festa da Liberdade, não acha que continuamos a viver numa espécie de situacionismo anterior a 74, embora disfarçado sob o manto da Democracia? Onde estão as promessas que nos fizeram nessa data tão simbólica? Na altura dizia-se haver 100 famílias milionárias. E hoje quantas existem? E os Ex-qualquer coisa que estão a receber reformas milionárias enquanto o número de pobres aumenta dia-a-dia?
Porque o espaço que me é reservado está quase todo preenchido, vou terminar exprimindo-lhe o meu contentamento por saber que, como eu, há outros velhotes que continuam a ter sonhos lindos…












ESCOLHAS



Ontem, dia 25 de Abril, Dia da Liberdade, quando me levantei, ainda pensei pedir ao meu motorista para preparar o Mercedes e ir até Lisboa ouvir os filhos da pátria no Palratório. Mas depois de uma pequena reflexão resolvi solidarizar-me com o Mário Alberto e com o Manuel Poeta, que não foram, porque o ambiente não era propício a pessoas do nosso gabarito. E não fui…
Mas se Liberdade é Liberdade por que não festejar também a minha?
E então decretei que ninguém cá em casa poderia ter acesso a qualquer órgão informativo, sobretudo os audiovisuais.
Quanto a Jornais, só entram os Regionais, pois são os mais pobres e portanto os mais honestos nas notícias que divulgam. Pela proximidade com as populações, conhecendo as suas dificuldades e anseios, a Imprensa Regional é essencial para as vivências locais, detendo papel preponderante na divulgação das realidades abrangidas pela sua área de actuação.
No que diz respeito a rádio, televisão e Internet, silêncio absoluto. Ninguém pode rodar o botão.   
Não foi difícil o consenso. Como somos apenas dois, resolvemos tudo pela via do diálogo e acabamos sempre por estar de acordo um com o outro.
Às oito e trinta da matina saímos de casa para o quintal. O Sol, vindo lá dos píncaros frios da Serra da Estrela e ainda enroupado numa nuvem branca, deu-nos os bons-dias. Os cachos de flores da glicínia brilhava mais, e nas folhas das plantas, os reflexos do astro-rei incidindo nas gotas de água, que escorriam da orvalhada da noite, faziam tremeluzir miríades de estrelinhas!   
O chilrear da passarada lembrava uma orquestra sem maestro – tocando cada qual uma partitura diferente, mas, mesmo assim, como é delicioso ouvir a cantoria da passarada no quintal!      
As andorinhas, em voos rasantes, mergulham no tanque-piscina e enchem o bico com água para ajudar na construção dos seus ninhos.
Foi este ambiente que escolhemos. Cortámos a relva do jardim, e plantámos flores ao mesmo tempo que apreciávamos os encantos da Natureza. E é sorvendo esta mistura de perfumes proveniente das várias espécies do jardim que eu festejo, neste dia, a Liberdade que é minha, a Liberdade de escolher. E eu escolhi este cenário de tranquilidade, esta atmosfera de paz e de bem-estar…
Cansei-me dos discursos palavrosos de todos esses Pinóquios da Democracia que no lugar do coração têm a carteira. Quanto aos seus cérebros e olhando a situação em que  nos meteram, vê-se logo quão insignificante é a quantidade de massa cinzenta, que ali mora.