sexta-feira, novembro 04, 2011

GENTES PACÍFICAS IGNORADAS

Antigamente o bilhete de identidade de grande parte das aldeias portuguesas do interior era constituído por uma Capela e por uma Escola.
A capela, onde geralmente aos domingos se celebrava a missa e se reuniam todos os habitantes e a Escola onde, de pequenino, se aprendiam as primeiras letras.
Com a junção de algumas formaram-se depois esses espaços geográficos que são as Freguesias com a sua Igreja Matriz e outros serviços, que a certa altura desempenharam um papel preponderante na vida nacional, sobretudo nos meios rurais.
Citando apenas um exemplo, houve um tempo em que o exame da 3.ª classe era feito na Escola da Freguesia, sem falar já na História desses aglomerados dispersos pelo País que eram anotados pelos párocos, nos livros de registo das Paróquias.
Mas, como é evidentemente, com o evoluir dos tempos a vida tudo mudou e pouco a pouco a aldeia começou a descaracterizar-se, tendo contribuído muito para isso a falta de visão futura dos governantes ao retirarem competência e serviços às aldeias em favor dos grandes aglomerados urbanos.
Assistiu-se em seguida ao êxodo das populações rurais que cada vez mais isoladas, e mais necessitadas dos mais elementares meios de sobrevivência, se viram obrigadas a rumaram às grandes urbes onde se fixaram e quase esqueceram as suas raízes.
Mas só quem vive em meios rurais pode avaliar o papel desses homens que estão à frente das Freguesias rurais, que lidam diariamente com as aspirações e os problemas dos habitantes e que muitas vezes lhes exigem soluções que ultrapassam a esfera das suas competências e atribuições. Eles são, de facto, uns verdadeiros «heróis da democracia»!
Mal pagos, por vezes mal interpretados, e quase sempre «bodes expiatórios» do não cumprimento de promessas de outros, são eles que à frente destes pequenos espaços geográficos dão o verdadeiro exemplo de abnegação e solidariedade, servindo, a troco de nada, o povo que os elegeu.
Agora que se fala muito na extinção ou fusão de Freguesias é de suma importância que essas decisões, a consumarem-se, sejam analisadas caso a caso e freguesia por freguesia. É urgente fixar as populações do interior, diminuindo as assimetrias entre a cidade e o campo. É urgente revitalizar o mundo rural, pois a ruralidade representa ainda a consciência da nossa verdadeira identidade cultural, com os seus valores, as suas tradições e as suas maneiras de viver, mais humanas, mais fraternas e mais solidárias. Não podem por isso os políticos voltar as costas ao país real e abandonar esses homens e mulheres que trabalham e cultivam os campos. É com essa gente humilde e simples, essa gente que se conforma com as alterações do clima que por vezes lhes destrói numa hora, o trabalho de dias e meses, que devemos aprender a lição da Fé e da esperança.
Uma lição que nos torna mais humanos, mais fraternos e nos aproxima mais de Deus. É esse o mundo dos que habitam os meios rurais. Um mundo de gente pacífica e, talvez por isso, quase sempre mais desfavorecida e ignorada.





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