Cheguei agora a casa e em complemento do que escrevi de manhã e porque vi na rua da cidade crianças famintas e tiritando de frio, lembrei-me de um poema de Augusto Gil,de 1909, em "Luar de Janeiro" que transcrevo pela sua oportunidade:
A NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
de uns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
- depois em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos... enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
– E cai no meu coração.
Augusto Gil – Luar de Janeiro, 1909
1 comentário:
Boa tarde. Não sei como entrar em contacto consigo através de email, portanto faço-o através de comentário. Chamo-me Francisca e confesso-me curiosa por todos os assuntos respeitantes ao Zaire e em especial à Macodibe.
A minha família materna tem fortes laços com essa terra de muitos encantos de que ouço falar e eu arrisco-me a dizer, que mesmo sem saber o nome do autor deste blog, o meu avô decerto o conhece.
Se soubesse mais alguma coisa, para além do publicado, sobre a macodibe ou sobre os donos da mesma, pedia-lhe que me contasse ou pelo seu blog ou para o meu email particular (FSofia.Albuquerque@gmail.com).
Desde já grata pela atenção
Cumprimentos
Francisca Martins
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