TESTEMUNHO
Há
muita gente que tem medo de envelhecer. No meu caso, confesso, que me sinto
feliz por ter chegado a esta fase da vida. Ela dá-me a oportunidade de
prosseguir o meu desenvolvimento tanto no aspecto pessoal como social. E quanto
não vale este livro ilustrado que é a memória com todas as experiências
vividas?!...
Por
isso aceito o envelhecimento como uma fase da existência terrena de cada ser
humano – encaro-o assim como que uma espécie de prolongamento de um projecto inacabado!
…
Agora
que os sonhos se esfumaram, que as paixões se esvaziaram e que à euforia de
outrora sucede a crua realidade do dia a dia, o tempo tem outro encanto, outro
sabor e cada amanhecer é uma dádiva que aviva o sentimento da maravilha do ser humano
na terra com toda a sua riqueza e diversidade.
E
é também uma outra maneira de interiorizar a vida com a alegria de poder
participar nas iniciativas que povoam o curso fértil da humanidade através da
solidariedade e do voluntariado.
Mas
nem sempre é fácil!...Numa sociedade computorizada e consumista em que se passa
o tempo a premir teclas e botões num ritmo alucinante imposto pela informática
e pela cibernética, só com força de vontade e determinação se consegue aguentar
a corrida desgastante que a maquiavélica máquina exige.
É
uma sociedade traiçoeira, esta em que vivemos!...
Ela
não se compadece com ninguém, nem mesmo com aqueles que são testemunhas vivas
dos laços de família ao longo de várias gerações.
O
conflito entre elas agudiza-se em cada dia que passa. O individualismo selvagem
e cruel anda à solta; a afirmação pessoal agride; a competição social destrói e
a solidariedade entre as pessoas tende a desaparecer.
Por
isso são várias as dificuldades com que o idoso se debate e é necessária uma
grande força de vontade e uma fé inquebrantável para fazer a integração nessa
nova sociedade, sem que tenhamos de abdicar dos princípios básicos daquela em
que fomos criados.
Apesar
de estarmos na era da globalização, não podemos esquecer que a família continua
a ser a célula básica da sociedade.
Durante
estes últimos vinte anos foi talvez o período da minha vida em que se
desenvolveu mais esta opção individual de reforçar o meu optimismo perante a
vida.
O
envelhecimento não é uma doença nem uma incapacidade, que nos impeça de ter uma
vida produtiva e feliz. Ninguém lhe foge e temos que o encarar como uma
realidade.
No
entanto, cada um de nós, pode reduzir os seus efeitos através de métodos e
preceitos a seguir no dia a dia. Desde a actividade física à alimentação
regrada e saudável são várias as formas de envelhecer activamente. A boa
disposição é um dos remédios mais aconselhados para enfrentar as inúmeras
partidas que o decorrer dos anos nos vai pregando…
Saber
rir de nós próprios, conformarmo-nos com a nossa idade e sobretudo ter fé, são
também atitudes que ajudam a fazer face às injustiças…
Todos
sabemos que os valores económicos aniquilaram os valores espirituais e
culturais. Apesar de tudo, em qualquer parte do Mundo há sempre uns Avós nos
quais os netos têm muitas vezes, a única referência de estabilidade, de afecto
e de carinho.
É
por isso que os responsáveis políticos deveriam tomar medidas adequadas de
forma a criarem as condições necessárias ao envelhecimento activo e ao reforço
da solidariedade entre gerações.
O
contributo dos mais velhos para a sociedade é muitas vezes ignorado, assim como
é ignorada a sua experiência e os seus ensinamentos que poderiam ser
aproveitados e dados como exemplo aos mais novos.
Porém
o que acontece muitas vezes é que os idosos são marginalizados pelos jovens,
esquecidos pelos adultos e quando não há recursos nem paciência ou são
“depositados” em qualquer estabelecimento que cuide deles ou são abandonados,
sobrevivendo muitas vezes em condições infra-humanas.
Mas
como disse mais atrás e no que me diz respeito, estes últimos vinte anos foram
como que uma aprendizagem ao longo dos quais se recreou dentro de mim uma outra
maneira de ser e de ver. Foi como também já disse no começo uma espécie de
prolongamento de um projecto inacabado, uma continuidade da caminhada mas com a
orientação das experiências vividas que me permitiram fazer uma opção
individual de reforçar o meu optimismo perante a vida. Aprendi a cultivar o
lado bom das coisas, a saborear os pequenos nadas. Aprendi a ver o futuro com
esperança a aceitar o passado enquanto autobiografia e a interpretar o presente
com confiança.
E logo
me apercebi que o diálogo entre gerações é essencial para prevenir a solidão e
a exclusão social. E comecei a tentar modernizar-me se assim me posso exprimir.
E já com cerca de 60 anos comecei a martelar as teclas do computador. Os meus
primeiros professores foram os meus netos. Mas foi com muita perseverança e
paciência que aprendi o essencial e posso dizer que hoje sei o necessário para
fazer os meus trabalhos de escrita.
Deus
tem-me privilegiado no que toca a saúde e o voluntariado é também para mim uma
outra maneira de reforçar a minha auto-estima mostrando-me que apesar da idade
ainda posso oferecer os meus préstimos aos que deles precisam.
Hoje,
logo que acordo, dou graças a Deus pelo dom da vida que ele me tem concedido.
Agradeço-Lhe também pela família que tenho. Completei há pouco tempo oitenta e
seis anos, e apesar de estar casado há 61 anos como uma Avó, como lhe chamam os
meus netos, sinto-me imensamente feliz!
E
é sem dúvida isso que me dá força para valorizar os factos e as pessoas numa
vivência serena, mas de constante inovação, em que assentam os Verdadeiros
Sinais dos Tempos.