On peut rire de tout, mais pas avec tout le monde.
Pierre Desproges
Primeiro pensou em mascarar-se de Ministro, mas a mãe dissuadiu-o do intento: - «Nem penses nisso, filho. Já pensaste na figura ridícula que farias, qualquer que fosse a cara do que escolhesses?»
Anacleto reflectiu, reconsiderou, e resolveu então disfarçar-se de ladrão. No meio de tantos, era mais fácil passar despercebido...
Muniu-se de um velho saco de campismo, pôs dentro uma pistola-metralhadora em plástico, um velho alicate, um pé de cabra enferrujado, e ei-lo na rua. Mas logo ao virar da esquina, eis que surge uma farda: - «Em nome da Lei, abra lá o saco!...» E, apalermado, Anacleto, obedeceu. Abriu, e não conseguiu convencer a "autoridade" de que se tratava apenas de um disfarce: - «Com todo este arsenal onde vais, ó velhinho?!... Vá, andor, p'rá esquadra... e já!»
E naquilo que ele julgou ser a esquadra, a voz rouca do homem fardado: - «Chefe, aqui tem um figurão que apanhei agora mesmo...» Anacleto tentou falar, mas logo o outro se adiantou: - «Cala a boca. Só falas quando eu disser..». E, então, aquele que dava pelo nome de Chefe, começou a tirar do saco o material: - «Com toda esta sofisticada panóplia, com certeza que ias assaltar o Banco de Portugal, não?!..». Mas Anacleto arriscou: - «Mas chefe, eu sou um homem honesto e fiz tudo isto por ser Carnaval...» E a resposta não se fez esperar: - «Senhor agente chame aí o quebra-ossos que aqui o nosso amigo está a mangar com a tropa...» Mas a ordem foi suspensa, porque a cara do "preso" inspirava, de facto, compaixão. E o Chefe deixou que ele falasse. E ele expôs, calmamente, o seu caso, a sua brincadeira... E o homem dos galões achou até piada e quando se preparava para repreender o seu subordinado pela sua falta de tacto, notou algo de estranho: - «Ouça cá, ó soldado, o seu número de matrícula? Você não pertence a esta esquadra...» E o homem, confuso: - «Sabe, é que eu também não sou polícia... Como hoje é Domingo Gordo...» E o Chefe ameaçador: - «Com que então a brincarem aos polícias e ladrões?!... Bonito. Muito grave. Muitíssimo grave. Abuso de autoridade...Isto vai custar-vos caro!...»
E desatou a rir. E a chorar de tanto rir, lá conseguiu explicar: - «Nenhum de nós os três é aquilo que parece. Eu também não sou Chefe. O uniforme que trago vestido, é alugado. Como é Domingo Gordo...»
Claro que esta crónica é própria da quadra que atravessamos. Não quero, no entanto, deixar de lembrar que há muitas semelhanças entre a minha ficção e certas situações que quase diariamente presenciamos. É tão grande a confusão que reina actualmente cá no rectângulo que é muito difícil conseguirmos fazer a destrinça entre o que é falso e o que é verdadeiro...
Anacleto reflectiu, reconsiderou, e resolveu então disfarçar-se de ladrão. No meio de tantos, era mais fácil passar despercebido...
Muniu-se de um velho saco de campismo, pôs dentro uma pistola-metralhadora em plástico, um velho alicate, um pé de cabra enferrujado, e ei-lo na rua. Mas logo ao virar da esquina, eis que surge uma farda: - «Em nome da Lei, abra lá o saco!...» E, apalermado, Anacleto, obedeceu. Abriu, e não conseguiu convencer a "autoridade" de que se tratava apenas de um disfarce: - «Com todo este arsenal onde vais, ó velhinho?!... Vá, andor, p'rá esquadra... e já!»
E naquilo que ele julgou ser a esquadra, a voz rouca do homem fardado: - «Chefe, aqui tem um figurão que apanhei agora mesmo...» Anacleto tentou falar, mas logo o outro se adiantou: - «Cala a boca. Só falas quando eu disser..». E, então, aquele que dava pelo nome de Chefe, começou a tirar do saco o material: - «Com toda esta sofisticada panóplia, com certeza que ias assaltar o Banco de Portugal, não?!..». Mas Anacleto arriscou: - «Mas chefe, eu sou um homem honesto e fiz tudo isto por ser Carnaval...» E a resposta não se fez esperar: - «Senhor agente chame aí o quebra-ossos que aqui o nosso amigo está a mangar com a tropa...» Mas a ordem foi suspensa, porque a cara do "preso" inspirava, de facto, compaixão. E o Chefe deixou que ele falasse. E ele expôs, calmamente, o seu caso, a sua brincadeira... E o homem dos galões achou até piada e quando se preparava para repreender o seu subordinado pela sua falta de tacto, notou algo de estranho: - «Ouça cá, ó soldado, o seu número de matrícula? Você não pertence a esta esquadra...» E o homem, confuso: - «Sabe, é que eu também não sou polícia... Como hoje é Domingo Gordo...» E o Chefe ameaçador: - «Com que então a brincarem aos polícias e ladrões?!... Bonito. Muito grave. Muitíssimo grave. Abuso de autoridade...Isto vai custar-vos caro!...»
E desatou a rir. E a chorar de tanto rir, lá conseguiu explicar: - «Nenhum de nós os três é aquilo que parece. Eu também não sou Chefe. O uniforme que trago vestido, é alugado. Como é Domingo Gordo...»
Claro que esta crónica é própria da quadra que atravessamos. Não quero, no entanto, deixar de lembrar que há muitas semelhanças entre a minha ficção e certas situações que quase diariamente presenciamos. É tão grande a confusão que reina actualmente cá no rectângulo que é muito difícil conseguirmos fazer a destrinça entre o que é falso e o que é verdadeiro...