quarta-feira, outubro 05, 2011

CARTA A UM FILHO


Quando eu, um dia, chegar a velhinho e perder os movimentos, a memória e a razão, sê paciente e tenta compreender o meu estado.
Se a minha mão tremer e me sujar quando como ou se eu não conseguir vestir-me, sê paciente. Lembra-te de quando eu te ensinei a comer e a vestir. Se quando eu falar repetir a mesma coisa muitas vezes, não me interrompas, escuta-me ainda que isso te custe. Quando eras pequeno eu contava-te a mesma história muitas vezes até que adormecesses.
Quando eu não quiser tomar banho, em vez de me forçares ou de me humilhares, lembra-te das coisas que eu inventava para te convencer a ir tomar banho.
Quando verificares a minha ignorância em relação às novas tecnologias, compreende-me e não me olhes com um sorriso irónico. Eu ensinei-te tanta coisa com tanto amor!...
Quando em certos momentos eu perder a memória ou o fio da conversa, dá-me o tempo necessário para que eu me lembre e se eu não conseguir não fiques nervosos, porque a coisa mais importante não é o facto de conversarmos, mas o facto de estarmos juntos e escutarmos um ao outro.
Quando as minhas pernas, já cansadas, não me permitirem andar, dá-me a mão da mesma maneira que eu fiz quando eras pequenos e davas os primeiros passos.
Se um dia eu disser que não quero viver mais e quero morrer, não fiques zangado, porque um dia tu compreenderás. Tenta compreender que na minha idade já não é viver, mas sobreviver. Um dia descobrirás que apesar de todos os meus erros e as minhas faltas eu quis sempre o melhor para ti e tentei sempre facilitar-te o caminho do futuro. Está o maior tempo possível junto de mim como eu tentei fazer quando tu eras ainda pequenino.
Ajuda-me a andar, ajuda-me a terminar a minha viagem com amor e paciência e eu te pagarei com um sorriso e com o grande amor que sempre tive por ti.
Eu gosto muito de ti, meu filho!
Teu Pai