quarta-feira, março 02, 2011

A IMAGINAÇÃO À SOLTA


Há dias em que a desilusão é mais forte, e então fecho-me dentro de mim e aí vai a imaginação a toda a brida. E lá vai ela: que voa, que rodopia, que desce, que sobe, mas sempre em torno do mesmo eixo, que é a Vida.
A Vida!... Este dia-a-dia cada vez mais materialista, mais cheio de risos amarelos, de sorrisos irónicos, de olhares de soslaio que mais parecem armas de arremesso.
Está assim a nossa sociedade: competitiva, invejosa, apressada, hipócrita, egoísta, traiçoeira e amoral.
Vive-se rodeado por uma corte de fingidos, de snobes, de manequins de plástico e de bonecas de silicone, cheias por fora e vazias por dentro.
Toda a gente quer parecer. Mesmo que não seja. O que importa é cultivar a imagem e não esquecer aquela regra que, em certos sectores, – sobretudo no público – confere superioridade: falar alto e grosso, para parecer superior, e intimidar os mais simples que, por humildade, se calam.
E neste grande palco com os mais variados cenários quase todos os actores, nas suas mais diversas e inéditas rábulas, têm como principal e único objectivo a exibição. Fingir, imitar, cultivar o faz-de-conta…
Em tudo! E em especial no que diz respeito a “posses”, a dinheiro, e também a sabedoria. Todos se fazem passar por ricos e sabichões. Não importa a área. Eles dominam todas as ciências. São polivalentes…
Se o coeficiente intelectual for baixo, e mesmo que não passe do zero, uma carteira bem recheada de notas resolve o problema e depressa transforma um burro num doutor.
O dinheiro!... Os “milagres” que ele não faz! E há por aí tanta nota vinda não se sabe de onde nem como!...
A trabalhar uma vida inteira, pergunto muitas vezes a mim mesmo, como é possível angariar fortunas em tão curtos espaços de tempo e, aparentemente, com tão pouco esforço!
Pergunta sem resposta! – Dir-me-ão os leitores. Mas talvez não!...
Li aqui há tempos, mais palavra, menos palavra e escrito por Gabriel Garcia Marques, que se procurarmos como se adquiriram certas fortunas, pelo caminho encontraremos quase sempre um cavalo morto…
Não é necessário explicar a metáfora, mas quando numa sociedade o dinheiro se sobrepõe à honestidade, à inteligência, à humildade, à justiça e à solidariedade, é caso para nos interrogarmos sobre o futuro. Que não será o meu, mas o dos meus netos. Mas será que eles pensam como eu?!...
Pára imaginação!... Deixa que eu goze o Presente. Deixa-me sentir o calor desta réstia de Sol que, sorrateiramente, aproveitou o intervalo entre duas nuvens negras, se escapuliu, entrou pela janela, e veio fazer-me companhia!...