Este ano fomos passar o Natal com a família do Norte – Vila Nova de Gaia. Menos frio do que aqui na aldeia, mas mesmo assim as temperaturas eram baixas.
Visitámos umas das “catedrais” do consumo. Muita gente e poucos sinais que indiciassem a crise por que estamos a passar. Talvez tivéssemos sido influenciados pela afluência às lojas onde muitos vão, mas nem todos fazem compras…
Salvo raras excepções é tudo gente apressada. Uma correria infernal. Só as crianças, ainda indiferentes à cavalgada da vida, olham sorridentes, olhos gulosos, os atraentes brinquedos expostos nas lojas da especialidade.
As canções de Natal, ora na toada antiga, ora em arranjos modernos, enchem o espaço, mas parece que ninguém nota muito a diferença. Dá-nos a impressão que o que conta é o barulho. Talvez um barulho diferente de outras épocas do ano, não tanto pelos acordes, mas mais pelos cheiros da quadra natalícia. Antigamente a música identificava uma época do ano com mais rigor. Hoje nem sempre isso acontece e a tendência é para derrubar essas fronteiras musicais. A melodia cedeu o lugar a um barulho tão ensurdecedor que quase se confundem os ritmos. Sinais dos tempos!...
Noite de consoada em família. O fiel amigo, ainda fumegante, acompanhado pelo respectivo séquito – couves, cebolas, ovos, batatas – presidiu, como manda a tradição, à cerimónia, e mal chegava aos pratos, logo era ungido com fino azeite, seguindo-se, conforme os gostos, a adição de alho picado.
Doces da quadra onde imperavam as rabanadas, rodeadas pelo bolo-rei, pelas filhós de abóbora e outras doçuras enchiam a mesa. Bebidas diversas e tradicionais testemunhavam a solenidade do momento sem qualquer descriminação, pois até o estrangeiro champagne se juntou à festa!
Meia-noite! Abriram-se as prendas e eis senão quando lá do presépio ouviu-se uma voz:
“Era Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!...”
Fez-se silêncio na sala e a vozita continuou:
“Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
Foi este o Natal de Jesus?!...” (*)
(*) Excertos de “Natal de Quem?” de João Coelho dos Santos
Visitámos umas das “catedrais” do consumo. Muita gente e poucos sinais que indiciassem a crise por que estamos a passar. Talvez tivéssemos sido influenciados pela afluência às lojas onde muitos vão, mas nem todos fazem compras…
Salvo raras excepções é tudo gente apressada. Uma correria infernal. Só as crianças, ainda indiferentes à cavalgada da vida, olham sorridentes, olhos gulosos, os atraentes brinquedos expostos nas lojas da especialidade.
As canções de Natal, ora na toada antiga, ora em arranjos modernos, enchem o espaço, mas parece que ninguém nota muito a diferença. Dá-nos a impressão que o que conta é o barulho. Talvez um barulho diferente de outras épocas do ano, não tanto pelos acordes, mas mais pelos cheiros da quadra natalícia. Antigamente a música identificava uma época do ano com mais rigor. Hoje nem sempre isso acontece e a tendência é para derrubar essas fronteiras musicais. A melodia cedeu o lugar a um barulho tão ensurdecedor que quase se confundem os ritmos. Sinais dos tempos!...
Noite de consoada em família. O fiel amigo, ainda fumegante, acompanhado pelo respectivo séquito – couves, cebolas, ovos, batatas – presidiu, como manda a tradição, à cerimónia, e mal chegava aos pratos, logo era ungido com fino azeite, seguindo-se, conforme os gostos, a adição de alho picado.
Doces da quadra onde imperavam as rabanadas, rodeadas pelo bolo-rei, pelas filhós de abóbora e outras doçuras enchiam a mesa. Bebidas diversas e tradicionais testemunhavam a solenidade do momento sem qualquer descriminação, pois até o estrangeiro champagne se juntou à festa!
Meia-noite! Abriram-se as prendas e eis senão quando lá do presépio ouviu-se uma voz:
“Era Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!...”
Fez-se silêncio na sala e a vozita continuou:
“Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
Foi este o Natal de Jesus?!...” (*)
(*) Excertos de “Natal de Quem?” de João Coelho dos Santos