Não têm conta as “mensagens” que já recebi ao longo destes últimos vinte anos e todas motivadas pelos rabiscos com que semanalmente esborrato um pequeno espaço neste Jornal.
Por intermédio de cartas, telefone e agora através das modernas tecnologias, Internet e telemóvel, raro é o mês em que não receba uma ou duas dessas pérolas.
Confesso que é com prazer que as recebo, apesar de algumas, por vezes, ultrapassarem os limites da boa educação.
Tenho recebido de tudo, mas as venenosas são as mais frequentes. Regra geral não lhes dou grande importância. Dalgumas até gosto. É sinal de que existo… pedindo desculpa, claro, ao filósofo e matemático francês pelo abuso na aplicação da paráfrase.
Das muitas que tenho recebido, escolhi a mais recente registada no livro de visitas do Jornal e que reza assim:
“Há muito que penso escrever-lhe, mas agora que terminei de dar aulas aos meus alunos, a ideia concretizou-se e aqui estou.
Há anos que o leio e aprecio a sua maneira de escrever. A sua escrita é fluente e a ironia que por vezes sobressai das suas crónicas dá-lhes tal sabor que apetece ler até ao fim!...
Mas…
Vou ser sincero e dizer-lhe que tudo isso se esfuma, pois o seu saudosismo e o seu apego ao antigamente é tal que lhe rouba o estilo e o coloca ao lado dos mais inveterados fascistas que conheço. Não sei a sua idade, mas pela foto deve andar nos “entas”. O senhor não pode com os políticos de agora, mas deve ter em casa uma vela acesa em frente da foto do Salazar a quem se tem referido, como de um santo se tratasse!
Adivinho que se deve ter arranjado nesse tempo do ditador e que agora é dos “convertidos” com bom salário, boas regalias e uma boa vida. Mas isso à custa dos que trabalham a sério. É bom dizer mal dos nossos políticos, mas se não fossem eles o senhor não teria o estatuto que tem que lhe permite viver à grande, com “escravos” para lhe fazerem a papinha e no fim do mês é só arrecadar as notas.
Já tivemos na nossa história cristãos novos, agora há os fascistas convertidos por interesse….
Apesar de tudo continua a escrever. Pelo menos pelo bom português que nos oferece…”
Ele há coisas!... Como é que o autor do “miminho“ conhece tão bem a minha vida! Incrível! Acertou em cheio em quase tudo. Só faltou acrescentar as minhas três reformas, o motorista privativo, o cartão de crédito sem limite, as casas na praia e a minha empresa numa off-shore ali prás bandas da ilha do Fidel.
Também se esqueceu de que o “santo”a que se refere não mora em minha casa, mas está bem presente na memória de todos – na dos pobres e na de muitos políticos ricos. Na dos primeiros, porque estão cada vez mais pobres e na dos segundos, porque não lhe perdoam por ele ter morrido pobre. É um mau “exemplo”para a classe…
Vejo-o tão acérrimo defensor dos nossos políticos que me atrevo a perguntar: o sôtor vive mesmo cá no rectângulo ou já habita Marte?...