quinta-feira, agosto 14, 2008
Então e os velhos?...
Sempre que escrevo sobre as angústias, os medos e as incertezas ou sobre a falta de competência, de honestidade e de bom senso que caracterizam o actual momento em que vivemos, rara é a vez que não receba na volta uns “miminhos”, quer por palavras, quer por pérolas literárias, cuja transcrição a decência me impede de fazer.
Bem sei que de nada vale insurgir-me seja contra o que for, mas por mais que tente não consigo ficar indiferente perante tanta falta de justiça, tanta prepotência e, sobretudo tanto desprezo pelos mais velhos, pelos idosos.
É raro o dia em que através da Imprensa não surjam, promovidos pelas Autarquias, novos programas de lazer, culturais ou lúdicos destinados a jovens. Quanto a programas que ajudem os mais velhos a esquecer, ainda que por momentos, a sua condição de vulnerabilidades e carências, raramente se promovem… Os idosos são cada vez mais esquecidos e para além de um passeio anual ou um almoço em conjunto, pouco mais se faz para amenizar um pouco a sua solidão. Não! …
Não esqueço que os jovens são os homens de amanhã, mas seria bom que também os velhos não fossem esquecidos e lhes fosse dada, se não a mesma, pelo menos um pouco mais de atenção.
Os velhos – principalmente os anciãos – sempre foram peças essenciais da sociedade. Sempre, excepto na sociedade actual. Não vou falar das míseras pensões que auferem, porque por mais que se fale, de nada adianta.
Seria bom que os governantes em vez das visitas relâmpago que fazem para presidir a inaugurações onde por vezes se desbarata dinheiro em jantaradas e folclore, permanecessem alguns dias em Misericórdias e Lares para se inteirarem da situação dos utentes e ao mesmo tempo indagar da “ginástica financeira” que essas Instituições têm de fazer para proporcionar aos seus hóspedes um fim de vida com a dignidade e o carinho que merecem!
Em vez de um ritmo acelerado e desmedido, em vez de um crescimento anárquico, as autoridades deveriam apostar num desenvolvimento ponderado, colocando a pessoa humana sempre em primeiro plano. A economia do futuro deve ser um acto de solidariedade em todos os domínios da vida humana indo ao encontro das classes pobres e idosas, combatendo a desumanização e as injustiças existentes. Urge promover políticas solidárias e humanistas e redimensionar a prosperidade material com o fortalecimento espiritual. A cultura autárquica para ser posta ao serviço de todos os cidadãos tem de possuir uma dimensão humanista e social. Ela tem de apostar no envolvimento e na participação de todos – novos e velhos.
A verdadeira política é uma ciência que deve estar ao serviço das pessoas e do bem comum sem quaisquer excepções. Diz-me a experiência que em política não há amizades, há interesses. No entanto, tratando-se de idosos, de homens e mulheres que nos deram o ser, negar-lhes um sorriso no fim da caminhada, é negar a nossa própria condição de seres humanos.
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