quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Vivências

A maior parte dos habitantes cá do rectângulo não vive. Corre…
Andamos cheios de pressa e sempre rodeados de novos brinquedos saídos do incomensurável ventre dessa terrível e assustadora fábrica que dá pelo nome de tecnologia. Massacrados dia e noite pela propaganda sistemática, ludibriados pela publicidade e enganados pelos falsos fazedores de milagres, não paramos!
Nesta sociedade de compra e venda, sempre de mochila às costas, vamo-la enchendo de opiniões, de quiméricos conceitos de vida, de sonhos irrealizáveis e de falsas esperanças.
E sem quaisquer certezas no amanhã, à medida que os dias vão passando, o nosso sonho vai crescendo até que nos auto-convencemos de que estamos perante a realidade.
E só quando a vida nos troca as voltas, nos barra o caminho, nos traz uma contrariedade, nos toca com uma perda, uma doença, então, acordamos, descemos à terra e verificamos que de nada valem as correrias, de nada serve o que armazenámos na mochila.
Somos enganadores enganados, concorrentes uns dos outros, com a casa cheia de bugigangas e a cabeça repleta de nada!
É o mundo que criámos. Um mundo materialista, afastado de Deus, sem valores espirituais, apenas virado para o sucesso imediato, para o dinheiro, para a ostentação, para a vaidade e para o luxo.
Procuramos ter cada vez mais “coisas” para mostrar ao vizinho, para fazer ver que também “somos”, que também “temos”e assim transmitirmos uma ideia falsa de nós próprios.
E é sempre com o conceito utilitarista do materialismo prático que não paramos de correr na ânsia de possuir. É uma espécie de escravatura, uma dependência em relação aos objectos que o progresso e a tecnologia vão parindo…
Podem não acreditar, mas, às vezes, é tanta a confusão, que a minha cabeça transforma-se num verdadeiro «Inferno»! E para complicar, surgem dúvidas e, muitas vezes, pergunto a mim mesmo se esse «Inferno» é obra da minha imaginação, – arquitectado e construído com velhas tábuas do meu sótão – ou se é mesmo um «Inferno» a sério!
Não estou a referir-me àquele Inferno existencial de que nos falava a catequista quando éramos meninos, mas a este «Inferno» que nos rodeia – a toda esta balbúrdia, a toda esta confusão, a esta podridão que tomou conta da sociedade em que somos obrigados a viver. Uma sociedade comandada pelo dinheiro, onde prolifera a mentira, a inveja, a intriga e o egoísmo; uma sociedade donde desapareceram os valores tradicionais – a honra, a dignidade, a educação, a seriedade e o respeito. Uma sociedade onde tudo se mistura sem regras, sem cautelas, usando e abusando da ingenuidade dos que menos sabem, dos que menos podem, mas que acabam, finalmente, por serem sempre os “bombos” da festa.
Não haverá uma maneira, um processo para pôr a tecnologia ao serviço do bem-estar de todos sem discriminar pessoas, mas com um sistema que distinga as necessidades reais das supérfluas?
É que, na maior parte das vezes, temos tudo o que precisamos para viver bem, mas falta-nos um bocadinho de felicidade. E isso não se compra. Temos de ser nós a construí-la. Pedra por pedra. Sem pressas. Sem correrias. E com a forte convicção de que o “material” que temos, - o que possuímos - nos chega para a sua construção.

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